A 15ª edição do Global Risk Report identificou em entrevistas com executivos e acadêmicos que as ameaças consideradas com maior probabilidade de atingir o mundo nos próximos dez anos estão todas ligadas ao clima.
São elas:
- eventos climáticos extremos;
- falha na mitigação e adaptação às mudanças climáticas;
- desastres naturais de grande porte;
- perda de biodiversidade e colapso de ecossistemas;
- danos e desastres ambientais causados pelo homem;
O relatório sobre a Desigualdade e a Concentração de Renda no mundo, recém divulgado pela Oxfam, resume bem a necessidade de combate à pobreza e o imperativo da inclusão produtiva de vulneráveis:
- os 2.153 bilionários do mundo têm mais riqueza do que 4,6 bilhões de pessoas.
- os 22 homens mais ricos têm mais riqueza do que todas as mulheres na África. (Segundo a ONU, existem 326 milhões com 20 anos ou mais.)
- o 1% mais rico do mundo possui mais do que o dobro da riqueza de 6,9 bilhões de pessoas.
- o valor do trabalho não remunerado realizado por mulheres com 15 anos ou mais é de US $ 10,8 trilhões por ano.
- o número de bilionários dobrou na última década.
Nestas semanas de intensas discussões sobre a emergência das mudanças climáticas, é relevante chamar atenção para as questões do crescimento inclusivo, da desigualdade e da concentração de renda. Alguns dirão: o que isto tem a ver com o clima. Vale lembrar que são as comunidades mais vulneráveis que sofrem com os desastres relacionados a mudanças climáticas. Não são elas que mais geram CO2, mas são elas que mais recebem as consequências do excesso dessas emissões. Principalmente na forma de inundações, furacões, secas e escassez de água potável!
Para que o crescimento seja inclusivo, o setor privado precisa fazer a sua parte desenvolvendo soluções inovadoras para aliviar a pobreza.
O mundo precisa do crescimento sustentável que cria empregos e gera renda, atraindo todas as pessoas, não somente as mais privilegiadas. Sabemos que precisamos olhar especialmente para comunidades marginalizadas e inseri-las, de forma produtiva, na cadeia de valor dos negócios, reduzindo assim de forma consistente a sua vulnerabilidade e promovendo ações de proteção social, de acesso ao mercado segurador e a dispositivos de proteção contra desastres naturais e outros riscos. Este caminho é sem dúvida uma das formas de redução das desigualdades e concentração de renda. É um modelo inclusive para a exploração econômica sustentável das florestas tropicais.
O Crescimento Inclusivo através de negócios inclusivos oferece oportunidades de crescimento não apenas para os vulneráveis economicamente, mas também para aqueles que são marginalizados em termos de gênero, localização geográfica, etnia, algum tipo de deficiência ou falta de conhecimento especializado. Como usar as novas tecnologias para aumentar o grau de inclusão de nossas economias e não para aumentar as diferenças entre ricos e pobres? Como usar essas novas tecnologias para capacitar mais pessoas vulneráveis, para gerar mais negócios liderados por essas pessoas e comunidades? O mundo em breve adotará, em escala, tecnologias como Computação Quântica, Inteligência Artificial e 5G. Elas servirão para um mundo mais inclusivo e mais igualitário ou aumentarão a separação entre ricos e pobres?
O crescimento inclusivo requer mais do que o crescimento econômico clássico e a busca do crescimento indefinido. Os limites físicos da terra já estão mais do que visíveis e reações decorrentes do estresse do uso de recursos naturais ocorrem a todo o momento em algum lugar do planeta. Também os limites do subdesenvolvimento, ou da vida abaixo da linha de pobreza, como limite humano, já deu diversos sinais ao longo de nossa história recente de que não mais será suportado por aqueles que o vivenciam diariamente.
Para que o crescimento seja inclusivo, é necessário repensar os modelos de negócios. Há evidências claras principalmente na África, Ásia e América Latina de que o crescimento econômico não chega às populações mais pobres, distantes ou nas periferias das grandes cidades.
Modelos de Negócios inclusivos são a contribuição mais clara do setor privado para tornar o crescimento mais inclusivo. Afinal, qualquer empresa de sucesso sabe gerar negócios e crescer economicamente. O desafio agora é crescer incluindo comunidades vizinhas e públicos mais vulneráveis. Assim, precisamos de empresas com modelos de negócios que forneçam soluções para os problemas de prestação de serviços aos mais vulneráveis, ao mesmo tempo em que economizam, evitam o uso ou circulam os recursos naturais consumidos nas suas operações.
Em comunidades onde os governos são incapazes de fazer chegar bens e serviços básicos para a população de baixa, o setor privado é o principal provedor de empregos e oportunidades de renda através de compras locais. Em muitos casos, para que a empresa possa operar e manter empregados na região, ela precisará criar as condições de infraestrutura e compartilhar essas soluções com a comunidade local. Isto pode se aplicar a serviços como hospedagem, acesso à água potável, escolas, segurança pública, transporte e instalações de saúde. Modelos de Negócios inclusivos que permitam o financiamento de infraestrutura compartilhada entre empresa e comunidade são a contribuição direta do setor privado para o acesso a esses serviços. Uma das formas de contrapartida do setor público para estes investimentos, poderia ser a concessão de descontos em impostos futuros até um percentual limite relacionado aos investimentos feitos pela empresa privada.
O pensamento tradicional sobre a população pobre e de baixa renda se fica na ideia de que fazer negócios nesse espaço não é viável. Muitas empresas receiam iniciar projetos dessa natureza, principalmente as que não atuam no setor de varejo. Porém, algumas empresas estão vendo o segmento como uma perspectiva de mercado, ou com potencial para fazer parte da sua cadeia de suprimentos. Os elementos-chave para entrar nesse mercado de forma a minimizar erros são (1) entender em detalhes os problemas dessas comunidades e (2) criar junto com as comunidades soluções inovadoras. Esses são desafios gigantes que os gerentes de desenvolvimento de negócios e diversas áreas internas nas empresas terão que lidar e superar.
Modelos de negócios inclusivos criam valor direto e tangível para os resultados da empresa e para as pessoas de baixa renda. De fato, é um falso dilema pensar em optar entre obter retorno financeiro ou causar impacto social positivo.
Negócios inclusivos podem ser desenvolvido por micro e pequenas empresas. No entanto, para reduzir a exclusão em escala, são necessários investimentos com maior impacto social; assim, os modelos de negócios inclusivos mais relevantes são operados por empresas de médio e grande porte.
Para que empresas de médio e grande porte possam de forma efetiva desenvolver negócios inclusivos, uma revolução corporativa precisa ser implantada. A boa notícia é que esta revolução já está em curso em muitas empresas. E serão estas que sairão na frente com vantagem competitiva em relação as demais. Estas mudanças corporativas incluem alterações em suas políticas e procedimentos de compras, de recrutamento, de desenvolvimento humano, de relacionamento com comunidades e com investidores, de investimento socioambiental, de avaliação de viabilidade de projetos, para citar apenas alguns processos que precisarão ser alterados para permitir a inclusão de comunidades vulneráveis na cadeia de valor.
Estas alterações se aceleram ultimamente porque não se trata mais de crescer e depois a partir das lucros ou incentivos fiscais obtidos fazer o bem através de responsabilidade social, trata-se de competitividade na cadeia de valor de suprimentos ou de criação de novos produtos e serviços, ou simplesmente devido às crises de abastecimento de recursos naturais, crises sociais ou catástrofes ambientais que afetam cada vez mais as operações das empresas.
Vemos sinais muito positivos de países como Singapura que estão investindo de forma muito significativa na busca desses novos modelos de negócios. Certamente a parceria entre empresas, governos, ONG´s e academia será um fator decisivo para avançarmos nesta agenda. O relatório da Oxfam, do Global Risk Report e as metas já definidas pela ONU nos seus ODS deixam um caminho claro e uma espécie de bússola para nos guiar em direção a um mundo mais inclusivo e igualitário.