Nesses tempos de acelerada inovação em tecnologias. Tempos de inteligência artificial e automação de tarefas antes inimagináveis, muitos estão refletindo sobre o futuro do trabalho e que tipo de atividade estará disponível para nossos filhos e netos. Preocupação lógica e legítima.
Nos países em desenvolvimento, ficamos muitas vezes na posição de expectadores das mudanças. Nosso risco é de que quando formos reagir a elas em muitos casos as mudanças já estarão muito avançadas e com efeitos severos sobre o mercado de trabalho e principalmente sobre trabalhadores menos capacitados.
Dados da ONU indicam 4,5 bilhões de pessoas vivendo com menos de US$ 7,7 por dia, um mercado estimado em US$ 4 trilhões. Negócios inclusivos se caracterizam por empregar modelos de negócios sustentáveis economicamente, nos quais a base da pirâmide (BoP) – os 4,5 bilhões de pessoas que vivem com menos de US $ 7,7 por dia – está incluída como produtores, consumidores ou empreendedores na cadeia de valor. São modelos de negócios que incluem pessoas de baixa renda ao longo de suas cadeias de valor. O Brasil, apesar de não ser uma potencial mundial quando falamos em inovação tecnológica, é reconhecido por sua capacidade de adaptação, inovação social e empreendedorismo.
Um dos fatores críticos para atingir este publico depende de nossa capacidade de inovar em processos sociais, não necessariamente em novos produtos tecnológicos. Estamos falando em invenções de baixo custo, com uso de materiais disponíveis e acessíveis ao publico de baixa renda. Muitas vezes envolvem novas aplicações para produtos e tecnologias já existentes e que precisam de adaptações para baixar o seu custo e se tornar acessível para a BoP.
São oportunidades nos mais diversos setores, como acesso à energia solar e eólica, aos recursos de telecomunicações com baixo custo, sistemas alternativos de tratamento de água e esgoto, seguros de baixo custo, tecnologias moveis para agricultura, transição da agricultura clássica para bio e orgânica, habitações de baixo custo, desenvolvimento de fornecedores locais.
Acelerar o uso de modelos de negócios Inclusivos é um dos caminhos para a agenda de crescimento no Brasil. Apoiar organizações sustentáveis, inovadoras e inclusivas com o público da BoP (Base of Pyramid) é um caminho claro para o crescimento inclusivo. Para tanto, precisamos de uma política nacional de inovação social. Algo que conecte esforços em nível nacional, estadual e municipal. Ações transversais e colaborativas com atores de empresas, academia e sociedade civil. A inovação social através de ferramentas como a co-criação, design thinking e teoria U tem um poder extraordinário de encontrar soluções de tecnologia social para construir e desenvolver modelos de negócios inclusivos para benefício de toda a sociedade.
Pesquisa recente da Endeavor mostra que o tempo médio de espera para se obter uma patente no Brasil é de 10 anos e a validade da patente é de 15 a 25 anos, tornando sua vida útil muito reduzida em comparação com outros países. Adicionalmente, a burocracia do processo e a falta de capital humano para avaliação dos pedidos gera uma fila de 220 mil pedidos de patentes e 350 mil registros de marcas para serem avaliados! Estes números demonstram mais um indicador do nível de inovação e criatividade do Brasileiro, ao mesmo tempo nos mostra o quanto temos que avançar na desburocratização dos processos. Poderíamos começar inovando nos registros de inovações e acelerando estes processos.
Nestes tempos de otimismo com a retomada (lenta) de indicadores de crescimento, cabe nos perguntarmos que tipo de desenvolvimento queremos e onde seremos mais competitivos. O desafio do Brasil não é somente crescer o seu PIB e sim aumentar a participação da BoP nos benefícios desse crescimento.